Em tempos de muita informação e pouca exatidão Miranda Neto reflete de como a História do Brasil se mantém fértil para analisarmos o conturbado Brasil do Século XXI.
Com O Brasil Resiliente–Estímulos Criativos Para sua Reconstrução, o autor nos transporta ao passado, quase como um roteiro imagético, no qual fatos e personagens reais são retratados na fidelidade de acontecimentos novamente investigados, mas nem sempre valorizados em tempos atuais.
No livro a imersão ao passado não é cansativa e torna-se empolgante quando conseguimos complementar e redescobrir pela micro-história episódios e biografias com um olhar interdisciplinar dos saberes, objetivando assim um caminho mais seguro para estudarmos nosso passado
A República Guarani constitui uma experiência pioneira de desenvolvimento regional sustentável na qual missões jesuíticas são descortinadas não somente pela aculturação imposta aos nativos pelos religiosos, mas também pelos espaços coletivos de trabalhos comunitários, desenvolvimento social, e até a autonomia do cultivo em pequenas áreas que é interrompido com a expulsão dos jesuítas.
Miranda Neto revigora o sentido de resiliência, já que as rupturas não são obstáculos ou limites para suas pesquisas bem como não são eternas, já que em cada capítulo de seu livro, o Brasil vai crescendo, retratado por atores sociais que não medem esforços em expedições e demarcações emocionantes que visam a colonização da terra-continente.
Em O Brasil Resiliente o autor nos revela que pecuária, geopolítica, logística, e abastecimento surgem em narrativas espetaculares que mostram que a Europa, principalmente Portugal, percebia a importância do Brasil, tanto que a opção da transferência da corte portuguesa para a América Sul também se fazia necessária.
Também é emocionante constatar o surgimento de uma economia liberal e a construção de um Brasil de negócios, de cultura, e de arte, que vai se consolidando como um império que almeja acompanhar o desenvolvimento das nações mais progressistas.
A interdisciplinaridade dos temas é profundamente arquitetada e a cada capítulo redescobrimos brasileiros que enfrentaram inúmeras adversidades, mas não desistiram de seus projetos ou de ocuparem funções públicas com vista às mudanças estruturais tão importantes para tornar o Brasil respeitado.
Em O Brasil Resiliente o imperador aparece de surpresa e assiste a palestra do aluno Serzedelo Corrêa. Engenheiros, economistas, médicos, professores, ocuparam posições políticas condutoras de um Brasil com muitas diferenças sociais, mas sempre é possível a competência vencer preconceitos.
Ferrovias são construídas, fazendas são ampliadas, e imigrantes tornam-se recursos humanos importantes para um império que precisa mostrar ao mundo suas potencialidades.
É inegável que o livro constitui rica fonte para nossa memória social, principalmente para os fatos ocorridos nos séculos XIX e XX. Já a experiência aeronáutica por expoentes brasileiros nos leva à corrida pelo pioneirismo da aviação em equipamentos experimentados nos cantões do Brasil e até em competições internacionais, como ocorreu em Paris.
O saneamento urbanista de Pereira Passos trará benefícios para a capital da ainda nascente república que internacionalizará o Brasil pela estética e funcionalidade das avenidas, teatros de óperas e equipamentos turísticos, mas também contribuirá para uma segmentação social, deslocando a população dos grandes centros urbanos para bairros periféricos e encostas dos morros evidenciando as rotineiras falhas de um planejamento não sustentável.
A iconografia apresentada potencializa a narrativa: tabelas, fotos e mapas, fortalecem a experiência visual de identificarmos os legados de grupos e instituições que até hoje estão presentes na sociedade brasileira.
O estimulante livro também é uma preciosa fonte de consulta permanente para estudantes de História, Geografia, Sociologia, Miranda Neto nos dá a oportunidade de apreciar um Brasil que foi se construindo com persistência e com uma capacidade de resiliência nem sempre presente em tempos tecnologicamente avançados.
A parte final é um alerta profundo de como a massificação tecnológica e a dependência da instantaneidade da informação está prejudicando a interpretação e retenção do conhecimento.
Além da ativa e questionável portabilidade comunicacional, ações mercadológicas repetitivas transformam o tempo disponível do cidadão em um canal de consumo constante no qual as redes sociais são inundadas de anúncios diversos induzindo à aquisição descontrolada de produtos e serviços desviando a atenção do receptor.
É inegável que ao retornarmos desta maravilhosa viagem ao passado brasileiro, Miranda Neto queira de alguma forma nos alertar que a resiliência não se consegue pela pressa da informação ou muito menos pelo consumo desenfreado do aparato tecnológico.
Em Mídia, Globalização e Cidadania o economista, historiador e professor sinaliza a necessidade de resgatarmos o hábito da leitura, da pesquisa, do planejamento e da reflexão, por meio de uma obra literária que a cada capítulo nos transmite, na exatidão dos fatos do passado, subsídios para despertar novos estímulos criativos para a reconstrução de um Brasil Resiliente, progressista que almeja o bem-estar social.
A obra é profunda e gostosa de ler, os recortes de tempo são fantásticos e precisos. Miranda Neto finaliza a obra resgatando princípios de civilidade, ética, e críticas aos ruídos de uma sociedade imediatista, ausente e ansiosa.
O livro é interdisciplinar e consegue fazer com que a história converse com a economia, e que a geografia saia dos mapas. Transmite um elegante recado para os pessimistas e usurpadores sociais de plantão que de forma leviana insistem em dificultar o desenvolvimento mais sistêmico e organizado da sociedade brasileira.