Descrição
DIABO – Calma, minha planta carnívora, solte essas correntes por um tempo, liberte o seu ego nas minhas mãos, porque no programa de assistência emocional do Diabo a vida só melhora! Que entre o escolhido.
(Entra o HOMEM como o BÊBADO, tropeçando chaplinianamente).
BÊBADO – Estou aqui, não precisa empurrar.
DIABO – Vejam que exemplo de homem bem-sucedido. Vocês dois precisam se conhecer.
BÊBADO – Que dois? (Pausa). Ah, está contando comigo.
DIABO – Menino monstro, essa é a princesa mofada.
BÊBADO – Vou enganar, não, seu Belzebu! Mor filezão, hein?
BIPOLAR – Como os homens podem ser tão asquerosos?
DIABO – Alguns minutos juntos e descobrirão que são mais parecidos do que imaginam. Comportem-se mal. (Sai).
BIPOLAR – Não vejo sentido nisso tudo. Não vejo mesmo.
BÊBADO – Que tal uma bebidinha?
BIPOLAR – Eu não bebo.
BÊBADO – Como assim? Essa frase que você disse não faz sentido.
BIPOLAR – Você não tem vergonha de ser um alcoólatra?
BÊBADO – Você não tem vergonha de não ter amigos?
BIPOLAR – O que quer dizer?
BÊBADO – Como espera ter amigos se você não bebe?
BIPOLAR – (Agressiva). Eu tenho vários amigos, pode apostar! Eles só são pessoas ocupadas demais para me encontrar sempre. Pessoas importantes!
BÊBADO – Calma, bonitona, não fique zangada. Não precisa ter vergonha de se sentir sozinha.
BIPOLAR – (Furiosa). Eu não me sinto sozinha!
BÊBADO – Tão bonita. Você é uma belezinha que só quer ser compreendida e amada. O mundo já foi tão injusto com você. Uma alma que só precisa de carinho. Quer um abraço?
(O BÊBADO abre os braços e se direciona à moça. A BIPOLAR hesita).
BIPOLAR – Claro que não quero um abraço seu.
BÊBADO – Estou adorando o nosso encontro.
BIPOLAR – Isso não é um encontro. Jamais ficaria com alguém como você.
BÊBADO – Me dê um motivo para não ficar comigo.
BIPOLAR – Você é um bêbado, não tem onde cair morto, não tem classe, é mal vestido, não fala coisas interessantes, é gratuitamente obsceno e o seu cabelo é desgrenhado.
BÊBADO – Eu pedi apenas um.
(“O amor segundo o Diabo, cena 3).
Sobre o autor:
Rafa Lima escreveu os romances O pervertido e Bem-vindos, sonhadores, os livros de contos A crueldade dos felizes e Nonsense são os outros, as peças de teatro que ficaram em cartaz no Rio de Janeiro Coleção de centauros (1998), Os despertAmores (2003) e O amor segundo o Diabo (2009), além de ser o autor do quadrinho provocador Pessoinhas e do blog www.fantasticomundodorafa.blogspot.com
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